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Equipe ABREN

A ABREN integra o Global Waste to Energy Research and Technology Council (GWC) e é associada da Associação Internacional de Resíduos Sólidos ou International Solid Waste Association (ISWA)

Velhas incineradoras de São Paulo

Depois de um longo tempo, volta-se a cogitar a implantação de uma usina de incineração de lixo na região metropolitana de São Paulo. Desta vez, na cidade de Mauá, que hoje recebe resíduos sólidos de São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Ferraz de Vasconcelos, Itanhaém, Juquiá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Por ignorância, má fé, ou ideologia (ou por tudo isso junto) alguns setores da sociedade estão dizendo que a iniciativa privada em Mauá é um retrocesso, pois há quase vinte anos que as usinas de resíduo sólido foram banidas de terras brasileiras. A ultima usina de tratamento térmico de resíduos sólidos, em São Paulo, foi desativada em 2002.

De lá para cá muito coisa mudou. A primeira delas é o nome. Não é mais usina de incineração de lixo. Agora é Unidade de Recuperação de Energia (URE), por tratamento térmico. Mas o que mudou mesmo é a tecnologia. Antes colocava-se todo tipo de lixo nas usinas – incluindo animais mortos, recolhidos pela rua. Hoje em dia, queima-se apenas o lixo não reciclável – aquele que não pode ser reaproveitado na produção industrial. Ou seja, a exemplo das quase 3.000 usinas espalhadas no mundo desenvolvido, o lixo reciclável tem muita importância. E o que não é reciclável, é transformado em energia.

A região metropolitana de São Paulo já teve três incineradores. Pinheiros, Ponte Pequena e Vergueiro. Todas desativadas. O de Pinheiros, por exemplo, foi transformado na Praça Victor Civita, um centro cultural.

Antiga usina incineradora Verqueiro

História
Em meados dos anos 90, durante a gestão do prefeito Paulo Maluf (93 a 96), a cidade de São Paulo discutiu um projeto que substituiria o incinerador de Pinheiros. O exemplo era um modelo que já se fazia na Europa. Ou seja, não seria uma outra usina incineradora de lixo, mas sim uma URE, que desta vez daria destinação adequada ao lixo dentro dos parâmetros aceitos internacionalmente, com emissões mínimas de poluentes e ainda produziria Energia Elétrica.

Infelizmente, por melhor que o projeto fosse (e era), a população não compreendeu a intenção do prefeito. Viu na intenção de Maluf a reedição de algo que era condenável – a fumaça que saia das usinas antigas era poluente e cheirava mal. A população não foi devidamente esclarecida e para piorar, o sucessor de Paulo Maluf na Prefeitura de São Paulo, Celso Pitta (1997 a 2.000) fez uma gestão desastrosa e não teve força política para dar sequência ao projeto da primeira URE (Usina de Recuperação de Energia) da América Latina.

A reação negativa à usinas térmicas de tratamento de lixo se propagou por décadas, contaminando todos as tentativas posteriores. No início dos anos 2000 se cogitou construir uma URE em Mauá, com o apoio da iniciativa privada (Petroquímica União de Mauá, que posteriormente se converteu em Braskem) para a região do ABC paulista. A iniciativa tinha o suporte de empresa portuguesa Valor Sul, que havia construído a Central de Valorização Energética, naquele país. Em 1994 o grupo português havia estado em São Paulo interessado no projeto. Os estrangeiros foram desmotivados pela reação dos catadores de lixo e outros segmentos da sociedade. O curioso é que em Portugal, onde também se pretendia uma URE na mesma época, a Valor Sul seguiram em frente e hoje são referência mundial para o mesmo tipo de projeto que durante tantos anos foi demonizado no Brasil.

Carlos Souza,
Engenheiro. Diretor Técnico da ABREN (Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos)

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