Equipe ABREN

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A ABREN integra o Global Waste to Energy Research and Technology Council (GWC) e é associada da Associação Internacional de Resíduos Sólidos ou International Solid Waste Association (ISWA)

Marco Legal da GD Dispara “Corrida do Ouro” em 2022 (CanalEnergia)

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SUELI MONTENEGRO, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE BRASÍLIA

A aprovação do novo marco da micro e minigeração distribuída ampliou uma janela de oportunidade que já estava aberta ao segmento de produção descentralizada de energia elétrica, especialmente para a fonte solar. O segmento não esconde o entusiasmo com o que pode ser seu melhor ano desde que tecnologia foi introduzida no país, e isso se reflete em projeções como a da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, que estima investimentos superiores a R$ 50,8 bilhões em 2022, sendo R$ 40,6 bilhões em MMGD e o restante em grandes empreendimentos de geração centralizada.

Somando tudo, o crescimento projetado pela entidade é de 12,1 GW, mais de 91,7% da capacidade instalada atual, de 13 GW. Para a geração própria de energia é previsto aumento de 105,0%.

A Associação Brasileira de Geração Distribuída projeta para esse ano um crescimento em torno de 7 GW, o que vai praticamente dobrar a capacidade instalada, que fechou 2021 em 8,6 GW. “Nós levamos quase dez anos para alcançar isso”, destaca o presidente executivo da ABGD, Guilherme Chrispim. Ele lembra que a velocidade de crescimento da micro e mini GD foi aumentando ao longo do tempo, reduzindo o intervalo no salto para o gigawatt seguinte.

Para Chrispim, o segmento está “na corrida pelo ouro” este ano para garantir a gratuidade da cobrança da tarifa de uso da rede das distribuidoras, a Tusd, até 2045. O ano será de muita pressão por projetos, tendo em vista a transição para quem obtiver o parecer de acesso nos 12 meses que serão finalizados em janeiro do ano que vem.

A mudança esperada no sistema atual de compensação da energia injetada na rede naturalmente vai motivar qualquer investidor, seja pessoa física ou empresa, que já tinha a intenção em montar um sistema de geração, avalia Chrispim. Para o executivo, “é uma escolha racional.” A partir de 2023 o mercado vai continuar crescendo, só que em ritmo menor que o esperado.

Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica mostram que o número de unidades consumidoras que recebem créditos de sistemas de geração distribuída fotovoltaica passa de 1 milhão. Outros 16,8 mil são abastecidos por centrais geradoras hidrelétricas (CGHs), em torno de 6,6 mil por projetos termelétricos e 149 por eólicos.

Responsáveis por emitir os pareceres de acesso para a implantação dos novos sistemas, as distribuidoras preveem um crescimento intenso nos pedidos esse ano, e já estão se preparando para isso, explica o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, Marcos Madureira. Ele destaca que a geração distribuída já vem aumentando de forma exponencial, mesmo antes da aprovação da lei, e a cada ano dobra de tamanho.

O executivo diz que é importante que os projetos sejam bem feitos, para facilitar o trabalho das empresas na emissão dos pareceres. A Abradee foi uma das associações que participou do esforço para que o governo fechasse um texto de consenso dentro do Projeto de Lei 5829.

No “consenso possível” foi acordado que uma parcela dos custos a que as distribuidoras ficariam expostas será coberta pela Conta de Desenvolvimento Energético. “A lei trouxe um marco importante, mas sem dúvida que o benefício que foi dado para o segmento é bastante elevado”, afirma Madureira.

Ele admite, porém, que a proposta original do Congresso Nacional era pior que a versão aprovada, pois reduziu para algo em torno de R$ 50 bilhões o custo que recairia para os demais consumidores enquanto permanecerem em vigor as regras atuais.

A lei criou uma política pública que estende o acesso aos sistemas de GD à população de baixa renda. O programa ainda vai ser detalhado, mas, na avaliação da Abradee, ele faz mais sentido, porque tem caráter social.

Crescimento

O custo do financiamento dos novos sistemas, em um cenário de aumento da taxa básica de juros, é um ponto importante, do ponto de vista do consumidor. Mas quando se olha a tarifa energia nos próximos anos no mercado regulado, a conta continua fechando a favor do investimento. Essa é uma avaliação comum entre executivos do segmento solar.


A vice-presidente de geração distribuída da Absolar, Bárbara Rubim, acredita que o mercado vai se
valer das mais de 70 linhas de crédito que existem hoje para se financiar. Alguns financiamentos terão
seu custo ajustado, mas o mercado vai tender ao equilíbrio.

Mesmo quando se consideram os impactos da variação cambial, do aumento dos insumos e do frete internacional, os benefícios ainda superam os custos, na opinião de quem investe na fonte. Chrispim, da ABGD, admite que de uma forma geral os sistemas de geração ficaram 20% mais caros, mas pondera que isso não se refletiu na procura por instalações de novos sistemas.

Rubim também destaca a trajetória de alta da conta de luz e lembra que os investimentos tem um retorno médio de cinco anos. Em sua avaliação, a corrida na janela de 12 meses não significa que não haverá demanda no ano que vem.

O presidente da entidade pondera que o custo de inserção de outras fontes em um nicho de mercado que no Brasil é predominantemente fotovoltaico é diferente, mas quem conseguir ser competitivo pode crescer. Um dos desdobramentos que a ABGD promete acompanhar de perto e a definição de atributos das fontes a serem considerados na valoração dos créditos de energia após o período de transição, para quem protocolar o parecer de acesso a partir de 2023. Segundo Chrispim, a ABGD está formando um grupo de trabalho e pretende voltar a se reunir com as outras associações para discutir o tema.

Franquias

O setor de franquias também vê com otimismo as perspectivas do setor de GD com a aprovação da nova lei. “Da mesma forma que surfou-se a onda do ponto com no início dos anos 2000, vamos surfar na onda da energia”, afirma o CEO do Portal Solar, Rodolfo Meyer.

O executivo usa argumentos semelhantes para sustentar porque é vantajoso para o consumidor produzir sua própria energia. Em 2021, lembra, a tarifa de energia elétrica subiu 21% segundo o IBGE, um cenário que tende a se repetir em 2022, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica.

Meyer explica que o modelo de franquia permite que pequenos empreendedores entrem no negócio de instalação de sistemas fotovoltaicos com o apoio de uma empresa profissional e de forma mais rápida. Existem de 3 mil a 4 mil empresas atuando como instaladoras de sistemas no Brasil, e o esforço é fazer com que todas possam usar o mesmo padrão, capacitando mesmo empreendedores experientes.

Como quantidade não é melhor que qualidade, explica, o Portal passou a limitar o número de novos franqueados. Os candidatos chegavam a 1200 por mês.

“A gente subiu o preço da franquia agora por causa dessa demanda tão alta. Passou de R$ 25 mil para R$ 38 mil. Você tem que ter um capital de giro de R$11 mil, R$ 12 mil e começa com home base, indo à casa das pessoas”, conta o executivo. No valor nem tudo é custo da franquia. Ele inclui treinamento presencial e material de trabalho.

Financiamento

Anunciada como a maior fintech para geração solar distribuída, a empresa Meu Financiamento Solar tem como meta em 2022 “acompanhar a expansão da tecnologia no país e dobrar o volume de financiamentos em relação a 2021”, afirma a diretora Comercial, Carolina Reis. A MFS é um spin-off do Portal Solar.

“Em 2021, registramos um aumento de 256% no volume de financiamentos e de 220% em propostas pagas em relação a 2020”, diz a executiva, acrescentando que o número foi alcançado graças a parcerias com instituições financeiras como Banco BV, que permitem oferecer linhas de crédito com condições e prazos que cabem no bolso da maioria dos brasileiros.

Para alcançar o objetivo, a MFS tem investido em equipe, treinamento e tecnologia, com uma área de suporte para novas empresas instaladoras e capacitação de parceiros. “Vamos estimular os instaladores a realizar os orçamentos via aplicativo para dar mais velocidade ao processo de venda, liberando o financiamento no mesmo dia da solicitação sempre que for possível.”

A expectativa é de que 2022 seja “o melhor ano da energia solar no Brasil”, com aceleração na demanda por sistemas solares residencial e comercial, nos 12 meses de transição de regras. Isso não significa que o cenário será ruim após 2023.

Ela lembra que a tendência é de aumento nas tarifas de energia, ao mesmo tempo em que haverá redução dos custos dos equipamentos solares, a entrada de novos players e a ampliação da oferta de linhas de financiamento que tornarão a compra do kit fotovoltaico ainda mais acessível.

Outras fontes

O presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas, Paulo Arbex, vê oportunidades para as CGHs no mercado de micro e mini GD. O executivo afirma que as usinas de porte reduzido são os empreendimentos que mais crescem entre os projetos de fonte hídrica, e justamente no segmento de geração. “É o mercado mais ativo hoje do setor de energia elétrica e deve crescer muito com o marco legal porque a lei deu uma coisa que faltava, que é a segurança jurídica.”

“A gente participou muito da discussão e da aprovação do PL 5829”, afirma o executivo, que prevê um mercado superaquecido e um boom de CGHs nos próximos anos. Arbex confessa, no entanto, que está preocupado com regulamentação da Aneel, e diz que ela deve ficar redonda, eficiente, leve e descomplicada.

CGHs estão entre as fontes que se enquadram na definição de mini GD

Para o presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Charles Lenzi, à medida em que o mercado de GD se expanda e o segmento das pequenas centrais geradoras entre nesse sistema de geração, é possível prever o crescimento dos empreendimentos em todo o pais.

“Uma coisa que a lei prevê que é interessante é aquela questão relacionada aos novos modelos de negócios, a geração compartilhada, que é a reunião de consumidores dentro de uma mesma área. Você pode ter consórcio, cooperativa.”

Benefícios ambientais, como o fato de serem geração despachável, contam a favor da hidrelétrica e das CGHs também, pontua o executivo. Lenzi estima nos próximos dez anos em torno de 2 mil empreendimentos no país com característica de CGH e potencial para serem implantados.

O presidente da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos, Yuri Schmitke, destaca que o sistema de compensação de energia tem usinas de biomassa, de biogás (gás de aterro e digestão anaeróbica) e também de gaseificação e pirolise. Há interesse de associados da ABREN em fazer projetos utilizando essa tecnologia.

Empreendimentos waste-to-energy são indicados para tratamento de resíduos sólidos urbanos e 98% deles fazem utilizam o processo de incineração. Como a potência é maior que o limite de 5MW para enquadramento no sistema de compensação esses projetos estão fora do mercado de micro e mini GD. Mas há, na avaliação do executivo, uma janela de oportunidade para quem atender os requisitos, porque mesmo pagando pelo uso do fio os descontos vão permanecer ainda por muitos anos.

Existem quase 300 plantas de biogás na modalidade de minigeração distribuída, com 70 MW de potência instalada. A gerente executiva Associação Brasileira do Biogás, Tamar Roitman, acredita que há muito potencial de crescimento nesse mercado. É preciso que os empreendedores do segmento se organizem para isso, porque, ao contrário da fonte solar, a estruturação de um projeto a biogás é mais complexa e leva mais tempo.

Tamar acredita que haverá uma corrida para garantir os benefícios do sistema atual, mas lembra que um ponto relevante da lei é que além dos 12 meses para garantir a autorização de acesso, o empreendedor terá 30 meses para colocar o projeto de pé.

“Esse é um sistema que a gente vê como muito relevante para o setor. Até para disseminar tecnologia. São plantas menores, pensando muito no autoconsumo. Hoje, o maior número de unidades de geração [a biogás] é o autoconsumo remoto”, explica Tamar. São projetos que podem ser feitos, por exemplo, por pequenos produtores rurais de suínos e aves, que além de melhorar a qualidade de energia que utilizam podem ter receita adicional.

O principal insumo dos produtores de biogás são os resíduos sólidos urbanos, com a utilização de gás de aterro. O grande potencial está na atividade agrícola, incluindo agroindústria, pecuária, açúcar e álcool.

Para quem tem atuação consolidada na área de renováveis, 2022 vai ser um ano de oportunidades, mesmo com o aumento conjuntural dos custos de logística e equipamentos, sem contar a questão do câmbio. “Há um desafio muito grande de custo por um lado, contrabalançando com a oportunidade de mercado”, avalia o diretor- presidente da América Energia, Andrew Storfer.

Para o executivo, mesmo com crescimento dos custos ainda há um incentivo bastante grande, que não vai acabar de uma hora para outra. “Chega lá em janeiro [de 2023] e fica uma condição um pouquinho pior para o consumidor, com uma oferta de desconto um pouquinho menor”, explica Storfer, que vê um certo equilíbrio em termos de venda.

Uma baliza utilizada pelo mercado de MMGD é a comparação com o mercado regulado, que vai conviver nos próximos anos com tarifas elevadas, resultantes das medidas de enfrentamento dos impactos da pandemia e da crise de escassez hídrica. Há um custo de empréstimos a serem pagos, que só vai prolongar no tempo a dívida que foi contraída em nome do consumidor.

O executivo lembra que os diferimentos de custos acabam comprometendo a tarifa para os anos seguintes, e que essa perspectiva para o ACR dá um pouco mais de atratividade ao desconto para quem produz energia.

FONTE: https://www.canalenergia.com.br/especiais/53201662/marco-legal-da-gd-dispara-corrida-do-ouro-em-2022

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