O Congresso Internacional de Biomassa (CIBIO) aconteceu entre os dias 02 e 04 de dezembro de 2020, em edição especial totalmente online.
O evento contou com renomados nomes do setor de biomassa e energias renováveis no Brasil e no mundo. Na pauta de debates, os principais desafios e oportunidades na agenda da geração de energia a partir da biomassa.
A troca de experiências, informações, contatos e as melhores práticas no setor também estiveram no foco da iniciativa. O Presidente da ABREN, Yuri Schmitke, participou de três painéis, apresentando a sua contribuição à agenda do evento.
No primeiro dia do evento, dia 2 de dezembro, Yuri participou da mesa redonda a respeito do “Futuro da Biomassa no Brasil”, que também contou com a presença de Charles Tang, Presidente da ABERS e representante da Câmara de Comércio Brasil-China; Carlos Evangelista, Presidente da ABDG e Wagner Queiroz, da Queiroz Advocacia.
Instigados com as perguntas “O que podemos esperar para o futuro do setor de biomassa no Brasil” e “Quais Políticas Públicas podem ajudar o setor de biomassa no País”, deu-se início aos debates.
Entre os destaques, os participantes comungam das colocações do Presidente da ABREN, Yuri Schmitke, no sentido de que a termoeletricidade é a melhor solução para o tratamento do lixo urbano, e nesta modalidade, a certeza de que as usinas de Waste-to-Energy constituem a melhor escolha.
Charles Tang ressaltou a modalidade do hidrogênio como umas das fontes potenciais mais limpas de energia, ao que acrescentou que a “a entrada de Joe Biden como Presidente dos USA auxiliará a retomada da luta contra a mudança do clima, o que, por sua vez, terá repercussão na multiplicação de projetos de energia limpa no mundo”
Carlos Evangelhista, da ABDG, previu muitas possibilidades no mercado brasileiro de Norte a Sul para a geração distribuída. Carlos mencionou a existência de 3.000 lixões no País e que “passou da hora de o Brasil aproveitar o seu potencial de biomassa”, asseverando que a Bandeira Vermelha custa muito caro para o consumidor e para o meio ambiente, uma vez que nessas ocasiões são convocadas térmicas a combustíveis fósseis para energia de capacidade no grid.
Yuri também pontuou que o estudo da COPPE/RJ indica ser necessário aumentar a participação das fontes de energia limpas do País se se pretende atingir o net zero de 2050 como metas das políticas de mudança do clima, ao que acrescentou que “fontes por meio da biomassa serão prioritários na geração de energias limpas para o alcance das metas do Acordo do Paris e a descarbonização da economia”
Na mesma direção, Carlos Evangelhista destacou que, em vinte anos, 9% da matriz elétrica brasileira terá como base a biomassa e mais 5% de fontes alternativas, com um grande crescimento das fontes renováveis de energia, gerando muitas oportunidades de venda de equipamentos e tecnologias, capacitação de pessoas e abertura do Brasil para o mercado mundial. Carlos acrescentou que no País “a gente tropeça em fonte de energia renovável e dá pena ter que ligar as termoelétricas”.
Ao final do primeiro dia, o Presidente da ABREN, Yuri Schmitke, enfatizou ser imprescindível somar esforços nas ações, a exemplo da Coalizão Valorização Energética de Resíduos lançada pela ABREN, além de incentivos adequados a implementação de usinas WTE no País e a consolidação do marco do saneamento nos municípios brasileiros, em especial por meio de PPPs.
No dia 03 de dezembro, no painel “Geração de Energia com Resíduos Sólidos Urbanos”, o Presidente da ABREN apresentou palestra sobre “Saneamento Energético no Brasil: Recuperação Energética de Resíduos Sólidos Urbanos”. Também participaram do evento Alexandre Fernandes, Diretor da WEG, Reges Dias, Diretor da Biocal e Ember Lion Brasil, Felipe Rinaldi Barbosa, da Carbogas Energia e Aristides Bertuol, da BNpetro.
O Presidente da ABREN destacou a importância de se investir em tecnologias nacionais de gaseificação e pirólise para tratamento de resíduos, embora a incineração mass burning seja a tecnologia dominante para resíduos sólidos urbanos, com utilização em 93% das ocasiões em que se adota o tratamento térmico ou o coprocessamento para produção clínquer, subproduto utilizado na fabricação do cimento.
No terceiro e último dia do evento os participantes responderam a uma nova série de perguntas desafiadoras no painel intitulado “Potencial do Biogás e Geração de Energia com Resíduos.” Participaram também do painel Tamar Roitman, Diretora da Abiogás, Aristides Bertuol, da Abers, Aurélio Souza, Usinazul e Marcelo Pierossi, da Lidera Consultoria.
O Presidente da ABREN, ao ser indagado a respeito da atual situação da cadeia produtiva de RSU no Brasil, esclareceu que em nosso País 96% dos resíduos sólidos urbanos são destinados a aterros, sendo que 40% vão parar em lixões e aterros controlados, 2% são reciclados e apenas outros 2% são enviados para projetos de compostagem, existindo, para além disso, apenas umas poucas dezenas de usinas de captura de gás de aterro instaladas.
Ao falar sobre a potencialidade de Waste-to-Energy propriamente dito, Yuri destacou existirem 6 projetos em andamento com excelentes perspectivas no Brasil, e que o Ministério de Minas e Energia já anunciou que fará leilão para contratação da energia elétrica em 2021, o que irá fomentar mais projetos ainda neste seguimento.
Yuri também pontuou que o País conta com 10 plantas de gaseificação e pirólise de 1 a 5 MW de potência instalada, com tecnologias nacionais e importadas para tratar resíduos sólidos urbanos e industriais. Encerrando suas colocações nesse item, Yuri enfatizou que dados da CETESB (2018) apontam para o colapso da maioria dos aterros nos próximos 3 anos no Estado de São Paulo.
Indagados sobre as dificuldades encontradas na geração de energia nas suas áreas de atuação específicas, os panelistas destacaram que:
- é preciso refinar os processos de coletiva seletiva e de reciclagem para a separação dos resíduos na origem, resultando em incrementos na cadeia produtiva de aproveitamento de resíduos de forma global;
- é preciso estruturar as PPPs (Parceiras Público-Privadas) com contratos de concessão de 30 anos, com tarifa de tratamento de resíduos diretamente debitadas na conta de água;
- a regulamentação específica do setor pela Agência Nacional de Água;
- leilões regulados para contratação de energia de usinas WTE acima de 5MW de potência instalada;
- regulamentação pela ANEEL do contrato padrão para viabilizar as chamadas públicas para que as distribuidoras contratem sem licitação, até 10% da demanda, fontes incentivadas e alternativas, incluindo WTE;
- regulamentação do atributo ambiental para precificar a perda do desconto no fio, nos termos da MP 998/2020;
- Revogação do art. 24 da Resolução Conama 316/2002; e
- aprovação do PL 513/2020 e do PL 2193/2020.
A última pergunta do painel disse respeito ao que esperar para o futuro da geração de energia. O Presidente da ABREN, Yuri Schmitke, enfatizou que a Diretiva Europeia de 30 de maio de 2018 prevê que “a partir de 1 de janeiro de 2027, os Estados-Membros só podem contabilizar como reciclados os biorresíduos urbanos que entram no tratamento aeróbio ou anaeróbio se, nos termos do artigo 22, tiverem sido objeto de recolha seletiva ou de separação na fonte.”
Yuri ressalta que dessa forma não mais será possível produzir composto a partir de resíduos não coletados seletivamente (diferentemente do que se pretende fazer no Brasil com RSU mesclado) enfatizando “a importância da coleta seletiva no Brasil para que esta tecnologia possa ser corretamente aplicada somente para tratar orgânicos dessa origem, e evitar que o Brasil cometa os mesmos erros daqueles que já viveram a experiência do que funciona ou não”. “Não é preciso cometer os mesmos erros dos europeus, melhor aprender com o relato histórico que está disponível para todos nós”, comentou Yuri.
Simultaneamente aos painéis técnicos relevantes, o Congresso trouxe a 5ª Edição da Feira Internacional de Biomassa em versão totalmente online.
Mais informações sobre o evento: www.congressobiomassa.com