Picture of Equipe ABREN

Equipe ABREN

A ABREN integra o Global Waste to Energy Research and Technology Council (GWC) e é associada da Associação Internacional de Resíduos Sólidos ou International Solid Waste Association (ISWA)

Mercado de Carbono é a Solução para Reduzir a Emissão de Metano no Setor de Resíduos (Folha de São Paulo)

Em artigo publicado pela Folha de S. Paulo em 08 de novembro, o presidente da ABREMA, Pedro Maranhão, defende que os aterros sanitários são a solução para mitigar os gases de efeito estufa e que esses locais não deveriam pagar pelas emissões de metano. O artigo, porém, contém uma série de equívocos que destoam dos dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU, e de publicações científicas, de modo que merece algumas correções e esclarecimentos.

O Projeto de Lei nº 412/22, que regulamenta o mercado de carbono no Brasil, traz importantes disposições para redução do metano no setor de resíduos, de modo a impor metas para que o lixo urbano possa ser efetivamente tratado, seja por tratamento térmico (waste-to-energy) ou biológico (compostagem), de forma a desviar a disposição de resíduos urbanos dos aterros para uma destinação ambientalmente mais correta.

Vale ressaltar que os aterros sanitários emitem mais metano do que os lixões, pois o percolamento do chorume no solo evita boa parte das emissões de metano na atmosfera, embora os lixões tragam graves problemas de contaminação do solo e das águas subterrâneas, e devam ser proibidos e encerrados o mais breve possível.

Por outro lado, está provado que apenas 30 a 50% do metano emitido em aterros sanitários é passível de ser capturado, mesmo com os mais modernos sistemas existentes. Desta forma, por ser o metano o segundo maior impulsionador de mudanças climáticas de fonte antropogênica, o problema das emissões de metano dos aterros passa a ser extremamente grave e preocupante.

Medições diretas de plumas de metano realizadas em aterros sanitários, por meio de imagens de satélites capturadas com a utilização de câmeras de espectrometria desenvolvidas pela NASA e a GHG Sat, mostraram que as emissões identificadas são muito maiores do que as relatadas nos atuais inventários de gases de efeito estufa (GEE).

Vale destacar que, com base em diversas medições via satélite, conclui-se que as emissões de metano de aterros sanitários são equivalentes às emissões de metano de todo o setor agrícola, em torno de 45% para cada setor.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituiu o caminho considerado mais adequado com relação à destinação dos resíduos. A PNRS traz consigo a solução clara para esse desafio: a redução, a reciclagem e a compostagem devem ser seguidas pelo tratamento dos rejeitos (não recicláveis) através do uso de tecnologia de valorização energética, deixando para os aterros apenas a parcela de materiais inertes resultantes desse processo, assim como é feito nos países que fazem a destinação adequada e a valorização de seus rejeitos em mais de 3 mil unidades de tratamento deste tipo, ou utilizadas como combustível em fábricas de cimento.

Em grande parte desses países, o uso de aterros sanitários, tal como prática vigente no Brasil, está terminantemente proibido, e naqueles em que ainda não se proibiu, foram implementadas taxas elevadas, e gradativamente crescentes, para desestimular o uso dos aterros.

Yuri Schmitke A. B. Tisi

Presidente Executivo da ABREN, Vice-Presidente do Global Waste to Energy Research and Technology Council – WtERT, Presidente do WtERT Brasil e professor da Fundação Getúlio Vargas – FGV São Paulo no MBA em Administração: Recuperação Energética e Tratamento de Resíduos.

Compartilhe esta publicação!