Meta do Plano Nacional de Resíduos Sólidos prevê, entre outras coisas, fechamento de lixões. Aterros sanitários são alternativas para descarte adequado do lixo, mas podem lançar mais metano na atmosfera do que estimado.
Por Lais Carregosa, G1
O Brasil precisa achar uma solução para o descarte adequado do lixo em 2024, quando todos os municípios devem fechar lixões e aterros controlados, segundo as metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (leia mais abaixo). Os aterros sanitários são uma saída para esse problema, mas podem poluir mais do que o estimado.
Segundo estudo da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), com base em imagens de satélite da Nasa, as emissões de metano dos aterros sanitários são 6,5 vezes maiores do que declarado ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), ligado à Organização das Nações Unidas (ONU)
Segundo o presidente da Abren, Yuri Schimitke, os aterros declaram as emissões com base na premissa de uma taxa de captura de metano de 95%, que ele classifica como “equivocada”.
“Temos um dano ambiental que está sendo descoberto agora e também é muito ruim, porque o aquecimento global é uma realidade e, se olharmos que o metano é 45% do mundo dos gases de efeito estufa […], esse é um dado alarmante e que precisa ser melhor investigado”, afirmou.
O estudo analisou dados de 13 aterros habilitados junto ao MDL, localizados em oito estados do país, e concluiu que foram emitidos aproximadamente 55,3 mil quilos de metano por hora. As emissões declaradas são de 8,6 mil quilos por hora.
O que são aterros sanitários?
Os aterros sanitários são empreendimentos para armazenamento do lixo, que contam com licenciamento ambiental, concedido pelos estados.
Eles são construídos de forma que os resíduos não contaminem o solo ou lençóis freáticos, geralmente com o uso de membranas impermeáveis e camadas de solo.
“Os gases e líquidos gerados no aterro são captados, coletados e tratados adequadamente. Os líquidos são tratados em sistemas de tratamento de efluentes e o gases são queimados em queimadores ou em motores para geração de energia elétrica”, explica o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Giovano Candiani.
Como os aterros emitem metano?
Os gases, entre eles o metano, são captados por tubulações e destinados aos motores ou queimadores. Contudo, esses gases podem “escapar” dos drenos, dando origem às emissões “fugitivas”.
“Uma parcela dos gases escapa pela superfície dessa camada de solo no aterro, pois o solo é poroso e os gases acabam fluindo por esses poros. E esse escape de gases, chamamos de emissão fugitiva, porque ela não está sendo captada pelos drenos no aterro”, explicou Candiani.
O professor da Unifesp cita alguns motivos para as emissões fugitivas de gás metano:
- diferença de tempo entre a colocação do lixo no aterro e o deslocamento da camada de solo para encobri-lo;
- solo mal compactado, com escape do gás pelos poros do terreno;
- movimentação dos drenos para manutenção ou falha de construção e instalação dos tubos;
- sistema de captação e drenagem sem planejamento adequado.
Como evitar as emissões?
Para o professor Giovano Candiani, seriam necessários ajustes operacionais nos aterros para evitar emissões fugitivas de metano. “Ou mesmo colocar geomembranas sob a camada de solo de cobertura dos resíduos. Mas, é necessário um projeto de engenharia para fazer essa adequação”, afirmou.
Além disso, compactar melhor as camadas de solo, instalar mais drenos e ter um sistema mais eficiente para exaustão dos gases podem ajudar a diminuir as emissões. “Há muito a se fazer”, enfatizou.
Já o presidente da Abren, Yuri Schimitke, que representa empresas geradoras de energia por resíduos sólidos, defende a destinação do lixo para usinas “waste to energy”, que queimam o lixo para geração de energia elétrica.
Plano Nacional de Resíduos Sólidos
O decreto que instituiu o Plano Nacional de Resíduos Sólidos foi publicado em 14 de abril de 2022 no Diário Oficial da União (DOU). O texto estabelece que, até 2040, metade de todo o lixo produzido deverá ser reaproveitado de alguma forma.
A lei que criou os caminhos para melhorar a gestão dos resíduos sólidos é de 2010, mas precisava ser regulamentada. Depois de 12 anos de espera, foi aprovado e publicado o Plano, que trouxe
- o “raio-X” da situação;
- como resolver;
- metas para que as soluções sejam apresentadas e cumpridas.
O plano manteve a determinação para acabar com um dos maiores problemas na gestão dos resíduos no Brasil: os lixões.
A meta inicial era de que, até 2024, não tivesse mais nenhum lixão no país. A reciclagem foi tratada como ponto prioritário.