Parceria visa fabricação no Brasil de sistemas para recuperação energética de resíduos sólidos urbanos; “Vimos que não fazia sentido desenvolver do zero algo que os europeus já dominam há décadas”, explica Reges Dias, diretor da Burntech
A Burntech Caldeiras, sediada em Agrolândia (SC), firmou no fim de 2024 um acordo de licenciamento exclusivo com a empresa alemã Martin GmbH, uma das principais fornecedoras globais de tecnologia para incineração de resíduos sólidos urbanos (RSU). O objetivo da parceria é viabilizar a produção nacional de caldeiras voltadas para usinas de recuperação energética (URE), com foco em futuros empreendimentos no Brasil.
A tecnologia da Martin envolve as grelhas móveis, consideradas o principal diferencial técnico dos sistemas de combustão. Já a Burntech será responsável pela fabricação local das caldeiras e trocadores de calor. “A Martin faz a grelha, que é o coração do processo. Nós vamos fabricar todo o restante aqui no Brasil”, afirma o diretor da Burntech, Reges Dias.
As grelhas móveis são estruturas metálicas articuladas instaladas no fundo da câmara de combustão de usinas de recuperação energética (UREs), responsáveis por movimentar mecanicamente os resíduos sólidos urbanos durante a queima.
O modelo adotado pela parceria entre as empresas prevê que a engenharia básica será fornecida pela Martin, enquanto os projetos executivos e a fabricação ficarão a cargo da empresa brasileira. A expectativa da Burntech é atender projetos de geração de energia a partir de resíduos urbanos em diversos estados, com destaque inicial para a cidade de São Paulo, que prevê a entrada em operação, em 2028, de duas usinas de recuperação energética com capacidade individual de mil toneladas por dia e potência de 30 MW cada, que devem contemplar mais duas de mesma capapcidade em 2032.
As unidades paulistanas serão construídas pelas concessionárias Ecourbis e Loga, responsáveis pela coleta e destinação do lixo na capital paulista, como parte de seus novos contratos de 20 anos com a prefeitura. Os projetos têm como meta reduzir em até 70% o volume de resíduos enviados a aterros até 2040, conforme diretrizes estabelecidas no Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares).
Com quase 50 anos de atuação no mercado de caldeiras a biomassa, a Burntech iniciou há cerca de uma década uma reestruturação voltada à inovação tecnológica. A parceria com a Martin é resultado de um processo de busca por soluções para a queima eficiente de resíduos diversos. “Vimos que não fazia sentido desenvolver do zero algo que os europeus já dominam há décadas”, explica Dias.
A Martin, fundada em 1925 na Alemanha, é responsável por mais de mil linhas de incineração no mundo. Seu sistema de grelha móvel é projetado para lidar com combustíveis heterogêneos, como o RSU, garantindo maior controle da combustão e estabilidade na geração de energia. A mesma tecnologia é usada em caldeiras de grandes fabricantes internacionais, como Mitsubishi.
No Brasil, a Martin ficou conhecida por ter fornecido os fornos do Incinerador Vergueiro, instalado em 1968 pela Prefeitura de São Paulo. A unidade, desativada em 2002, foi a primeira do gênero no país e operou por décadas com a função de queimar lixo urbano e hospitalar.
A Burntech pretende aproveitar a nova fase de investimentos em infraestrutura de resíduos sólidos e energia no Brasil e na América Latina. Além do fornecimento, a empresa aposta na capacidade de manutenção local como diferencial competitivo. “Vamos garantir peças, suporte técnico e conhecimento operacional no país, o que é essencial em um mercado que exige confiabilidade”, diz o diretor.
A licença assinada com a Martin tem validade exclusiva para o Brasil e já está sendo utilizada em cotações para novos projetos. A empresa também mira oportunidades em países vizinhos, com o plano de atender toda a América Latina a partir da fábrica em Santa Catarina.
