Consórcio da região metropolitana de Campinas discute instalação de uma unidade para tratar resíduos e gerar energia
Transformar lixo em energia é o desafio que sete municípios paulistas têm pela frente. Reunidos no Consórcio Intermunicipal de Manejo de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Campinas, conhecido como Consimares, esse grupo de cidades vem se preparando para processar cerca de 240 mil toneladas anuais de resíduos da região. A partir daí, o projeto inclui a construção de Unidade de Recuperação Energética (URE) para tratamento de resíduos e geração de energia elétrica que abasteceria parte da região, prevista para o segundo semestre deste ano. É o novo conceito com o qual os 940 mil habitantes locais passarão a conviver: o lixo tem valor.
Pode ser o fim de aterros sanitários e de seus impactos ambientais negativos, mas há pela frente várias etapas e desafios. “Temos acompanhado o processo para ver se conseguimos iniciar as conversações e termos o aval da Cetesb. De nossa parte, já estamos trabalhando com a população. Nossa expectativa é de que o lixo deixe de ser um problema e comece a ser matéria-prima”, diz Cléber Canteiro, secretário de Meio Ambiente de Santa Bárbara, um dos municípios que integra o Consimares.
Mas a questão vai além. Em fevereiro deste ano, o Conselho do Meio Ambiente de São Paulo realizou audiência pública sobre o EIA/Rima, Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente, da futura Central de Tratamento de Resíduos Sólidos do Consimares. Segundo Valdemir Ravagnani, superintendente do Projeto Consimares, a reunião marcou a abertura da discussão com a sociedade, elo fundamental para o êxito do programa. O próximo passo é a aprovação por parte dos municípios, pelo Legislativo e Executivo. A URE será construída em área industrial no município de Nova Odessa, com investimento privado estimado em cerca de R$ 500 milhões.
O processo está em curso, mas não há consenso. O secretário de Serviços Urbanos de Hortolândia, Vicente Andreu Guillo, tem questionamentos. Por se tratar de projeto de geração de energia que tem como combustíveis os resíduos sólidos, o tratamento térmico não vem para resolver a questão do lixo. “Esse tipo de tecnologia enfrenta desconfianças por parte de ambientalistas e do Ministério Público. O empreendedor é bem qualificado, mas há dúvidas sobre a viabilidade. Caso não se consolide, todo o restante deixa de existir. Até agora, houve um único leilão de energia desse tipo no Brasil. Se isso não for mantido, se os valores não forem mantidos, do ponto de vista do negócio, que é geração de energia, o projeto sucumbe”, diz.
A URE terá capacidade de tratamento térmico diário de 650 toneladas de lixo e de 160 mil MWh/ano de geração elétrica, energia suficiente para abastecer quase a metade da demanda dos municípios, e cuja venda serviria para abater até 75% dos custos do processamento do lixo. Atualmente, a maioria das prefeituras da região paga para destinar o lixo doméstico a aterros sanitários privados. Apenas Santa Bárbara possui aterro próprio. Os outros são Hortolândia, Nova Odessa, Capivari, Sumaré, Elias Fausto e Monte Mor.
Entre os principais pontos do projeto estão a redução do impacto de aterros na região e de seus passivos, uma vez que demandam no mínimo 20 anos de cuidados específicos após sua desativação; geração de energia limpa; e redução de custos para o consumidor. O andamento do processo, entretanto, é desigual nos municípios, segundo Ravagnani. Alguns, como Santa Bárbara e Hortolândia, estão avançando na coleta seletiva, enquanto os demais caminham a passos mais lentos. Santa Bárbara recicla entre 6% e 7% de seu lixo, Hortolândia, 4%. A média nacional é de 3,7%. Algumas cidades do Projeto Consimares estão na faixa de 1%.
Em Santa Bárbara, já há contêineres espalhados pela cidade, em escolas, que recebem material para reciclagem. Além desses pontos de entrega voluntária (PEV), a prefeitura contratou duas cooperativas para realizar coleta seletiva porta a porta e nos PEVs, que aumentaram a quantidade de material coletado em mais de 700%, em um ano. “O custo desse contrato paga todo o caminho da logística reversa. Foi um ganho social e ambiental grande. Cada cooperativa recolhe o equivalente a 6% de tudo o que foi gerado. Dá para crescer muito mais”, diz Cléber Canteiro. Um bom início foi a inclusão de aulas de educação ambiental nas escolas municipais de Santa Bárbara.