Uma Jornada Estratégica pelo Epicentro da Recuperação Energética Global
Entre 5 e 13 de setembro de 2025, uma delegação brasileira de alto nível percorreu quatro das principais cidades chinesas — Shenzhen, Shanghai, Suzhou e Hangzhou — em uma missão inédita que aproximou o Brasil das tecnologias mais avançadas do mundo em recuperação energética de resíduos e transição energética sustentável.
Organizada pela FCR Law, com apoio da ABREN e do WtERT, a Missão Brasil-China Energia do Futuro reuniu empresários, consultores e gestores públicos brasileiros em encontros estratégicos com gigantes globais do setor ambiental e energético, proporcionando uma imersão prática nas soluções que tornaram a China líder mundial em waste-to-energy (WtE).
Por Que a China?
A resposta é objetiva: a China opera mais usinas waste-to-energy do que qualquer outro país do planeta. São centenas de plantas em funcionamento, capazes de processar milhões de toneladas de resíduos diariamente, gerando energia limpa e reduzindo drasticamente a dependência de aterros sanitários.
O modelo chinês combina inovação tecnológica, eficiência operacional e governança transparente. Usinas integradas ao tecido urbano, monitoramento de emissões em tempo real acessível ao público e incentivos econômicos que recompensam a conformidade ambiental demonstram que recuperação energética e aceitação social caminham juntas quando há transparência e rigor técnico.
Para o Brasil, que ainda destina mais de 40% de seus resíduos urbanos a lixões e aterros inadequados, compreender esse ecossistema é essencial para viabilizar projetos de grande escala, atrair investimentos estrangeiros e transformar um passivo ambiental em oportunidade econômica.
O Que Foi Visitado
A delegação brasileira teve acesso privilegiado a algumas das empresas mais importantes do setor global de gestão de resíduos e energia:
China Everbright Environment Group
Maior operadora de usinas WtE do mundo, com 200 plantas em operação e capacidade para processar 160.000 toneladas de resíduos por dia. Em 2024, registrou faturamento de US$ 3,9 bilhões e emprega 18 mil pessoas. Seu modelo “asset-light” prioriza operação e manutenção, tornando-se referência em eficiência e gestão integrada de ativos ambientais.
SUS Environment Co., Ltd.
Responsável pela construção de mais de 300 usinas WtE nos últimos anos e com capacidade de fabricar 200 grelhas anualmente, a SUS é fornecedora dos equipamentos que equiparão a primeira usina waste-to-energy do Brasil, a URE Barueri, com 20 MW de potência instalada.
China Tianying Inc. (CNTY)
Com atuação internacional na Europa, África e América Latina, a CNTY opera 50 usinas WtE e possui capacidade de tratar 80.000 toneladas diárias de resíduos. Em 2024, faturou US$ 780 milhões e lucrou mais de US$ 40 milhões, consolidando-se como referência em internacionalização e inovação tecnológica.
JONO Environmental Technology
Especializada em automação para triagem e reciclagem, a JONO processa 100.000 toneladas de resíduos por dia com soluções de inteligência artificial aplicadas à separação de recicláveis, demonstrando que tecnologia avançada pode potencializar a economia circular.
China United Engineering Corporation (CUC Group)
Braço técnico da Sinomach, o CUC Group projetou cerca de 200 usinas WtE na China, incluindo a icônica usina de Jiufeng, em Hangzhou, que processa mais de 1,3 milhão de toneladas de resíduos por ano.
Além dos encontros corporativos, a missão incluiu visitas técnicas a plantas-modelo, como o Complexo Everbright em Suzhou, o maior do mundo, com capacidade para processar 8.100 toneladas diárias em quatro plantas integradas, e a Usina de Jiufeng, em Hangzhou, referência global em design urbano sustentável e transparência operacional, capaz de gerar 390 GWh de energia elétrica por ano.
Transparência Como Alicerce da Aceitação Social
Um dos momentos mais impactantes da missão foi o acesso à plataforma nacional de monitoramento em tempo real das usinas WtE chinesas. O sistema, aberto ao público, centraliza dados operacionais de todas as plantas do país: localização, volume de resíduos tratados, fabricantes dos equipamentos, eficiência energética e, principalmente, emissões atmosféricas.
Cada usina reporta continuamente os níveis de material particulado, NOx, SO₂, dioxinas e metais pesados. O cumprimento rigoroso dessas exigências é recompensado com um feed-in tariff de aproximadamente US$ 100 por megawatt-hora. Esse modelo não apenas garante conformidade regulatória, mas também transforma a transparência em ferramenta de legitimação social e atração de investimentos.
Para o Brasil, a lição é clara: tecnologia segura, monitoramento auditável e comunicação transparente são os pilares para conquistar a confiança da sociedade e viabilizar projetos de recuperação energética em áreas urbanas densas.
Lições e Recomendações para o Brasil
A experiência chinesa oferece diretrizes práticas para o desenvolvimento do setor no Brasil:
1. Consolidação Regulatória
Marcos legais claros e estáveis são fundamentais para atrair investimentos de longo prazo. A regulamentação deve equilibrar exigências ambientais rigorosas com incentivos econômicos que tornem os projetos financeiramente viáveis.
2. Priorização de Blocos Metropolitanos
Projetos em regiões densamente povoadas garantem escala mínima, reduzem custos de logística reversa e maximizam o impacto ambiental positivo.
3. Aceleração de FEEDs e Licenciamento
Parcerias com casas de engenharia experientes aceleram a fase de Front-End Engineering Design e facilitam o processo de licenciamento ambiental, reduzindo riscos e prazos.
4. Integração de Triagem Mecanizada
Acoplar sistemas automatizados de triagem ao front-end das plantas potencializa a recuperação de recicláveis e maximiza a valorização econômica dos resíduos.
5. Estruturação de PPAs Estáveis
Contratos de longo prazo para venda de energia são essenciais para viabilizar financiamentos competitivos e assegurar previsibilidade de receitas.
6. Transferência Tecnológica e Manufatura Local
Parcerias estratégicas com fornecedores globais podem viabilizar a instalação de fábricas no Brasil, gerando empregos qualificados e reduzindo custos de importação.
O Potencial Brasileiro
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) projeta alcançar 994 MW de capacidade instalada em WtE até 2040. Alinhado à Política Nacional de Resíduos Sólidos e aos Compromissos Climáticos do Brasil (NDCs), o setor representa uma oportunidade concreta para empresas estrangeiras, fundos de investimento e grupos nacionais interessados em tecnologias maduras, rentáveis e com alto impacto socioambiental.
Transformar resíduos em energia não é apenas uma solução ambiental — é uma estratégia econômica, climática e industrial. A Missão Brasil-China Energia do Futuro demonstrou que, com planejamento, tecnologia e governança adequada, o Brasil pode converter seu passivo ambiental em motor de desenvolvimento sustentável.
Galeria de Imagens e Vídeos
Veja fotos e vídeos da missão no link:
https://drive.google.com/drive/folders/1DiPmChPehCL5SpLWza4VTNw3zcxnaxJQ?usp=sharing
Sobre os Organizadores
FCR Law – Fleury, Coimbra & Rhomberg Advogados
Escritório responsável pela organização da missão, especializado em direito ambiental, energético e infraestrutura.
ABREN – Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos
Entidade nacional sem fins lucrativos que reúne 40 empresas do setor de waste-to-energy, biogás, biometano e coprocessamento. É uma das maiores associações do setor de resíduos no Brasil e integra o Waste-to-Energy Research and Technology Council (WtERT).
WtERT – Waste-to-Energy Research and Technology Council
Organização global fundada pela Universidade Columbia em 2002, presente em 30 países e reconhecida por sua contribuição ao IPCC e a políticas públicas sobre gestão sustentável de resíduos.
Contato:
ABREN – Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos
E-mail: contato@abren.org.br

